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Os Lugares das Empregadas Domésticas

Proposta de Intervenção - Os Lugares das Empregadas Domésticas Autores: Lucas Miguel Gehlm Ribeiro dos Santos Lucas Bell dos Santos Introdução Este texto, produzido por dois alunos de administração da UFRGS, aborda o artigo “Os Lugares das Empregadas Domésticas” de Juliana Cristina Teixeira, Luiz Alex Silva Saraiva e Alexandre de Pádua Carrieri, o artigo pode ser lido em: https://sl1nk.com/EhUSL. Resumindo, de forma breve, o texto propõe uma proposta de intervenção ao brilhante artigo escrito pelos três autores. Proposta de Intervenção Refletindo sobre o tema, reparamos dados alarmantes e que devem ser olhados com atenção: 93,2% dos trabalhadores domésticos são mulheres e 59,3% são mulheres negras, segundo dados do IBGE (2010). Esses números evidenciam que a cultura patriarcal, que associa os afazeres domésticos ao papel feminino, continua muito presente, mesmo no século atual. Além disso, mostram como o racismo e a desigualdade social permanecem entrelaçados na estrutura do trabalho doméstico. A profissão que garante o funcionamento de milhões de lares no Brasil ainda é marcada pela informalidade, pela falta de reconhecimento e pela herança histórica de um passado escravocrata que ainda se reflete nas relações sociais.

O artigo de Teixeira, Saraiva e Carrieri mostra que as empregadas domésticas vivem em constante trânsito entre espaços distintos: a casa dos patrões, o lar próprio, a escola e os diferentes ambientes da cidade. Cada um desses espaços representa não apenas um local físico, mas um território simbólico de identidade, memória e pertencimento. No entanto, mesmo quando estão fisicamente inseridas nesses ambientes, muitas vezes não são reconhecidas como parte deles. Há uma distância simbólica entre o estar e o pertencer.

Nesse sentido, um dos exemplos, mencionados no artigo, que nos fazem refletir é o de Isabel (nome fictício). Isabel é estudante de administração e acredita que o estudo é um lugar que lhe pertence. Entretanto, em sua faculdade, ela não revela que é diarista. Segundo o estudo: “O que corrobora com as visões das duas outras empregadas que demonstram não considerar a escola como seu lugar: ela está na universidade, mas não como empregada doméstica.”

Portanto, essas mulheres, em suas trajetórias, revelam uma contradição: para poder se sentir aceitas e respeitadas, precisam negar a própria condição de empregadas. Quando dizem ser “como da família”, demonstram o quanto o afeto e o trabalho se misturam, mas também o quanto a hierarquia e a desigualdade continuam existindo. O lar, que deveria ser espaço de acolhimento, transforma-se também em um lugar de fronteiras invisíveis, onde convivem a intimidade e a exclusão.

Ao longo da leitura, fica evidente que o conceito de “lugar” ultrapassa o espaço físico e passa a representar algo emocional e simbólico. É o lugar em que essas mulheres constroem laços, enfrentam desafios e reafirmam a própria existência. O sentimento de pertencimento aparece como forma de resistência: mesmo diante da exploração e da desvalorização, elas buscam afirmar sua identidade e criar novos sentidos para o espaço que ocupam.

Com base nisso, nossa proposta de intervenção está no próprio ato de escrever e divulgar esta reflexão. O artigo original nos inspira a olhar para essas trabalhadoras não apenas como personagens de uma pesquisa, mas como protagonistas de um processo histórico e social. Trazer esse debate para o campo da administração é reconhecer que o trabalho doméstico é também um trabalho organizacional, essencial à sustentação da economia e à reprodução da vida cotidiana, embora frequentemente excluído das discussões sobre gestão e valor.

Nosso texto, portanto, propõe uma intervenção simbólica: ampliar o olhar sobre o trabalho doméstico e provocar a sociedade a reconhecer sua importância. Quando um tema silenciado ganha espaço de fala, há transformação. Ao compreender os “lugares” das empregadas domésticas, enxergamos também as fronteiras simbólicas que definem quem tem direito a pertencer e quem permanece à margem.

Encerramos reafirmando que dar visibilidade a essas histórias é um gesto político e humano. Que o lar, antes visto como espaço de hierarquia e silêncio, possa ser reconhecido como território de dignidade, memória e identidade. Compreender o lugar das empregadas domésticas é compreender o nosso próprio lugar como sociedade e reconhecer que toda mudança começa quando o invisível passa a ser visto.


 
 
 

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